segunda-feira, 16 de novembro de 2015

[7ª série] Sobre a resistência difusa

Boa noite cambada!

O trecho abaixo faz uma discussão sobre a resistência difusa. O debate é acadêmico. Logo, para compreendê-lo basta ter em mente que o autor está fazendo uma análise sobre formas de resistências que, apesar de não serem organizadas, tiveram forte impacto na sociedade. Caso tenham dúvidas, basta fazer um comentário no post

Abraços

"Existem também formas de resistência individual e difusa à exploração e à opressão pré-capitalista. O escravo rural ou o camponês servil pode resistir individualmente à ação do proprietário escravista ou feudal. Trabalho malfeito, agressão e assassinato dos senhores de escravo ou de seus familiares e prepostos, fuga da fazenda escravista ou do feudo e tantas outras formas de expressão do inconformismo individual dos produtores diretos são constantes nos períodos de estabilidade política das sociedades pré-capitalistas. Essa resistência individual e difusa, dependendo da situação histórica e da amplitude que assuma, pode gerar transformações reais e importantes na organização da economia e da sociedade, convertendo-se, assim, em fato histórico. E. Staerman destaca o que denomina “formas latentes” da resistência escrava. Sustenta que a fuga de escravos foi um fenômeno amplo e permanente na Roma antiga. Acrescenta que os escravos não se contentavam em fugir, mas também matavam seus senhores e destruíam os seus bens. Charles Parain considera que a resistência difusa dos escravos foi um dos fatores responsáveis pela mais importante transformação ocorrida nas relações de produção no mundo antigo – a substituição gradativa do trabalho escravo pelo regime de colonato. Para o caso do feudalismo, Maurice Dobb relata que a fuga de camponeses servos para as cidades adquiria, muitas vezes, proporções catastróficas para a economia dos feudos, tanto na Inglaterra quanto nos demais países europeus. Apresenta relatos para mostrar que, na França, nos feudos em que os senhores se demonstravam inflexíveis, sua terra era abandonada, algumas vezes com o “êxodo de toda a aldeia”. Cita o exemplo da Ile de Ré, no século XII, cujos habitantes “desertaram em massa devido à severidade de seu senhor, que foi obrigado a fazer concessões para poder ficar com alguns trabalhadores”. Nos séculos XII e XIII, os senhores passaram a firmar acordos de cooperação para a busca de servos foragidos [...]. Portanto, mesmo sem movimento reivindicativo organizado, escravos rurais e camponeses podiam obter, graças à resistência difusa, reformas na economia escravista antiga e na economia feudal. Para o escravismo moderno, Antônio Barros de Castro argumentou, de modo convincente, que as ações de rebeldia individual e a pressão difusa dos escravos rurais, somadas à ação preventiva dos fazendeiros escravistas contra rebeliões, são responsáveis – talvez as principais responsáveis – pelo desenvolvimento da brecha camponesa. O autor contesta a explicação meramente econômica do “sistema do Brasil”, explicação que atribui à concessão de um lote de terra para o cultivo próprio do escravo exclusivamente aos interesses do senhor em baratear a reprodução da mão-de-obra. Portanto, tal qual nos casos do escravismo antigo e do feudalismo, a inexistência de organização permanente dos produtores diretos e de negociação sobre as condições de trabalho não significam que a contradição entre produtores e proprietários deixe de incidir sobre as formas e os rumos que assumem as sociedades pré- capitalistas".

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